terça-feira, 27 de maio de 2014

René Descartes - A Dúvida, o Cogito e a Alma


René Descartes foi um filósofo francês, e também matemático. Teve uma educação baseada na filosofia escolástica. É considerado o pai da Filosofia Moderna.

Depois de ter aprendido a filosofia dos antigos e a medieval, Descartes ficou com a impressão de que aquilo tudo apresentava uma certa fragilidade. Algo não o convencia. Essa sensação era aumentada quando ele se deparava com os céticos. Os céticos eram filósofos que duvidavam de tudo: diziam ser impossível conhecer uma verdade, pois não há segurança em nada do que o ser humano conhece.

Obviamente, Descartes não concordava com os céticos, mas a sua discordância precisava se basear em argumentos. Daí ele iniciou uma viagem investigativa. Dizia que, se conseguisse encontrar alguma certeza de que não fosse possível duvidar - mesmo que uma só -, ele rebateria os céticos e seria capaz de reconstruir todo o edifício da Filosofia sobre esta pedra angular. Costumava repetir a frase de Arquimedes: "Dêem-me um ponto de apoio e eu moverei a terra." Tudo o que Descartes queria era esse "ponto de apoio", isto é, uma única certeza.

Arquimedes

Para isso, Descartes recorreu a um método que se chamou de "Dúvida Metódica" ou "Dúvida Hiperbólica". Este método consistia em duvidar de absolutamente tudo a fim de ver se havia alguma coisa da qual não seria possível duvidar.

Descartes, então, dividiu os modos de conhecimento do ser humano: 1- pelos 5 sentidos; 2- pela razão.

É possível duvidar daquilo que conhecemos pelos sentidos? 

Descartes percebeu que sim. Os sentidos costumam nos enganar, mesmo em situações corriqueiras, como quando olhamos o sol e o vimos menor que a terra. Ou quando vamos a uma piscina, e notamos que ela é mais funda do que parece. Ou ainda quando escutamos alguém nos chamar, e não é ninguém, etc.

Além disso, somos sensíveis às ilusões de ótica, que facilmente nos enganam. Se estivermos febris, em delírio, ou drogados, é possível que nossa percepção sensível seja alterada. Quando sonhamos, então, vemos e ouvimos coisas que, no entanto, não existem. 





Descartes percebeu, então, que o engano dos sentidos é um fato. Logo, não se pode confiar neles.


Descartes passa, então, a analisar a razão. Como exemplos de conhecimentos puramente racionais - isto é, que não nos cheguem pelos sentidos -, ele elege a matemática. Para que alguém saiba que 2+3 são 5, não é preciso enxergar, nem ouvir, nem cheirar, nem sentir pelo toque, nem sentir o gosto. A matemática é algo que é puramente da razão.

E, de fato, Descartes observará que o conhecimento matemático resiste à ilusão, seja no sonho, seja no delírio, etc. Mesmo que uma pessoa se drogue e veja 5 pokemons à sua frente, ele poderá contá-los, o que demonstra que a matemática, mesmo nestes casos, permanece válida.

Contudo, como está procurando todas as possibilidades possíveis de se duvidar de algo, Descartes encontrará um único caso em que é possível duvidar da razão: a do gênio maligno.


Imaginem que há um ser que possui acesso aos seus pensamentos e que pode manipulá-los. Se tal ser existisse, seria possível que ele fizesse alguém pensar que 2+3 são 5 quando, na verdade, seriam 10. 

Observem o seguinte: Descartes não está a dizer que tal gênio exista. Mas, apenas, que não é impossível. Ora, se não é impossível, então é possível. E se é possível, então talvez exista. Como esta permanece sendo uma possibilidade, então já não é possível confiar totalmente na razão, pois não se pode provar que a existência deste ser é falsa.

Portanto, Descartes chegará à conclusão de que não pode confiar nem nos sentidos nem na razão. Portanto, só lhe resta duvidar de tudo. 

Mas é precisamente aqui que lhe surge um insight!

Ora, se eu duvido de tudo, então eu estou pensando, pois a dúvida é um pensamento. E, se eu estou pensando, então eu existo, pois não poderia pensar se não existisse. A equação fica assim:

Dúvida = Pensamento
Pensamento --> Existência
Se Dúvida, então Existência.

Daí a fórmula de Descartes: "Penso, logo existo" que, em latim, fica "Cogito, ergo sum".



Esta é uma certeza absoluta, imune a qualquer sonho ou droga, ou a qualquer gênio maligno ou demônio.

Um ser poderia me enganar sobre o conteúdo do meu pensamento, mas não sobre o fato de eu saber que estou pensando e que, portanto, eu existo. Enganar-me só seria possível através do pensamento. Isto quer dizer que, quando eu digo que estou pensando, não é possível enganar-me quanto a isto, pois é sempre verdadeiro que, enquanto estou pensando ou sendo enganado, estou de fato pensando.

Esta é a única certeza que Descartes terá. Mas é o suficiente, pois ele só queria uma.

Descartes, então, dividirá todas as coisas em duas:

Res Cogitans - A coisa pensante;
Res Extensa - A coisa extensa (todo corpo material).

Da segunda, é possível duvidar. Mas da primeira, não.




Descartes, então, perceberá algumas características do "Eu":

- Ele duvida;
- Ele pensa;
- Ele existe;
- Ele é imperfeito, pois duvidar é não conhecer; logo, é uma imperfeição.

Se o "Eu penso, logo existo" é a única certeza que é possível ter, a princípio, então não é possível ter a certeza sequer de que se tem corpo. Essa idéia vai inspirar, por exemplo, teorias como a do filme Matrix.


Como conhecemos o corpo? A partir da visão ou do tato. Visão e tato são sentidos. Vimos que Descartes duvida deles. Logo, não é possível saber se temos corpo. Contudo, não é possível duvidar que temos pensamento, pois, se duvidarmos, já estaremos pensando.

Conclusão: pensamento e corpo são coisas diferentes. Logo, o pensamento não é físico; é imaterial. O pensamento é a alma. Então, a alma existe.


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